DIA DE PRETO é uma aventura que aborda de forma engenhosa e bem humorada a realidade do negro no Brasil, retratada como um ciclo que se repete. É um filme repleto de citações, paródias e referências da cultura pop, dos quadrinhos e do cinema comercial de gêneros, mas não é um filme de gênero, nem é um filme comercial. Com poucos diálogos, a trama de DIA DE PRETO é como um quebra-cabeça invertido. A narrativa vai progressivamente se tornando surreal e fantástica conforme o espectador vai compreendendo a trama básica que motiva as ações dos personagens.
O personagem principal é um jovem negro dos dias de hoje que, ao longo da trama, descobre que sua situação remonta à história de um jovem escravo que teria vivido naquele mesmo lugar 350 anos atrás. O quebra-cabeça se completa quando o fim encontra o início e o ciclo se completa. No mesmo ponto em que começou, a aventura termina, deixando no espectador o sabor de um mistério. Serão os personagens reencarnações daqueles do passado? Teríamos feito uma incrível viagem no tempo? Seria tudo um sonho maravilhoso de um escravo atormentado? Ou será que a história não tem fim, retornando eternamente ao mesmo ponto ao longo dos séculos?
Nosso objetivo com esse filme era romper com a dicotomia entre cinema comercial e cinema de arte. Uma dicotomia que há muito determina as formulações estéticas e narrativas do cinema brasileiro. Desejávamos fazer um filme que abordasse a condição do negro na sociedade brasileira, não de forma panfletária ou moralista, mas por um prisma existencialista, focado no processo de transformação individual do personagem em meio a uma sociedade que insiste em não se transformar. O protagonista supera os obstáculos com surpreendente habilidade e consegue sobreviver às maldições que a História lança sobre ele.
DIA DE PRETO foi totalmente realizado por uma equipe pequena, com o orçamento de um curta-metragem e sem apoio oficial. Isso significa que é resultado de absoluta liberdade artística e soluções técnicas criativas. Um filme que se inscreve numa nova e vibrante geração de produções brasileiras, feitas por jovens cineastas com uso intensivo de tecnologias digitais leves, orçamentos reduzidos e visão multi-cultural. Um aperitivo daquilo que vem aparecendo como uma tendência no cinema brasileiro contemporâneo.
Muito bom este post.
ResponderExcluir