sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O Dia de Preto do Bonequinho




O Bonequinho foi assistir à cabine do filme Dia de Preto. Chegou contrariado porque o chefe o preteriu ao escolher quem ia resenhar a avant-premiere do vídeo da festinha de aniversário do Michael Haneke (dizem que é uma obra-prima e vai ser o tetra do austríaco em Cannes 2013).

O Bonequinho poderia ignorar a indicação do chefe e seguir levando sua vida, aguardando um filme mais bonecudo para escrever uma crítica de três páginas e quinze notas de rodapé. Mas, magnânimo, decidiu aplicar uma lição ao Dia de Preto, de um só parágrafo.

O Bonequinho parecia sonolento, pois passou a noite anterior revendo toda a cinematografia tadjiquistanesa, para não ser mais humilhado pelos amigos do Baixo Gávea. 

Ao chegar, queria logo afogar as mágoas e foi perguntando: "cadê a champanhe?". Explicaram pra ele que não tinha, que o filme não tem dinheiro público. A partir daí o bonequinho ficou num canto pensando que se ele fosse francês sua vida não seria assim.

No decorrer da sessão, a má-vontade e a abstinência de etanol venceram e o Bonequinho dormiu profundamente. Quando o lanterninha, comendo um McLanche Feliz, o acordou, o Bonequinho perguntou: "E aí? O que você achou?". Pensando que se tratava do lanche, o lanterna respondeu: "Mais embalagem que recheio".

Em outras épocas, o Bonequinho diria que o filme é “preto de alma branca” (ou “branco de alma preta”), mas agora o Bonequinho é politicamente correto.

Distraído, o Bonequinho comeu o papel e jogou a bala fora.

Foi o seu dia de preto.



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