domingo, 31 de julho de 2011

A primeira exibição do filme

No último sábado, dia 30 de julho de 2011, toda a equipe se reuniu para assistir, pela primeira vez, ao filme DIA DE PRETO na íntegra. Decorridos cinco anos das gravações do longa-metragem, um misto de ansiedade e alegria pela conclusão dos trabalhos marcou a noite, que contou com a presença maciça do elenco. Na foto acima, os atores Raul Ferreira e Ricardo Bonaverti celebram o reencontro e a primeira exibição da obra, que foi aprovada por todos os espectadores da sessão, como Paula Wetzel, mulher do diretor Daniel Mattos, na foto abaixo ao lado da produtora executiva Anna Carolina Monteiro de Barros.

Aqui no blog, mais detalhes da festa da primeira exibição serão publicados ao longo das próximas semanas, mostrando as imagens do evento e as expectativas de cada integrante da equipe após a conclusão da produção e a aproximação da fase de difusão do filme. Até!

sábado, 30 de julho de 2011

A Igreja de Nossa Senhora da Penna

A Igreja de Nossa Senhora da Penna é um dos templos mais antigos da História do Brasil. Erguida em meados do século XVII, sua origem está envolvida com a lenda do primeiro escravo negro alforriado no País, pano de fundo para o filme DIA DE PRETO. A versão oficial, disponível no site do santuário católico, aponta a data de 8 de setembro de 1661 como o dia da aparição da Santa, sendo a Igreja construída pelo Padre Manuel de Araújo três anos depois. Outras fontes, no entanto, afirmam que a primeira construção de uma “casa para rezar e defender cristãos” no cume da Pedra do Galo, coração do bairro da Freguesia, remonta ao ano de 1633, por obra de um eremita recluso, o primeiro morador da colina.

Para chegar à Igreja, tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional, é necessário avançar por uma subida íngreme de calçamento “pé-de-moleque” (foto ao lado), construída por escravos durante o período colonial. No alto, os visitantes se deleitam uma paisagem deslumbrante, dos maciços da Tijuca até o oceano Atlântico, passando pela visão de toda a baixada de Jacarepaguá. No filme DIA DE PRETO, entretanto, uma intervenção de computação gráfica foi necessária nos planos em que a Igreja aparece no alto da Pedra do Galo. Observada de longe, podemos avistar hoje apenas uma pequena parte da única torre sineira da Igreja, encoberta pela vegetação, de um lado, e pela casa dos romeiros, de outro. Por isso, uma imagem da Igreja foi aplicada digitalmente no alto da Pedra do Galo (imagem abaixo), de forma que os espectadores pudessem identificá-la no filme.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

A caixinha

Outro objeto de cena marcante do filme DIA DE PRETO, e diretamente relacionado ao sino sagrado, tema da matéria abaixo, é a caixinha de madeira que abriga a relíquia. Na maioria das cenas, entretanto, a caixinha aparece sem a peça, o que significa que alguém – o Preto - está com problemas. No filme, a aparição do formato típico de um sino recortado na madeira, revelando um espaço vazio (imagem acima) é uma espécie de senha para o início de um momento de tensão ou de perseguição.

Para caracterizar o envelhecimento da caixinha, foram produzidas duas versões da peça cenográfica. No século XVII, a caixinha está nova em folha, perfeita carpintaria em madeira lustrosa (foto acima, na mesa do Senhor do Engenho D’Água). Nos dias de hoje, trincas, farpas, tecos e muitos cantos desgastados procuram dar o tom da passagem de três séculos de história, cumprindo com louvor, pelo menos até o Dia de Preto, a tarefa de guardar o maior tesouro de uma família rica e tradicional.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O sino da vaca

Além do cruzeiro do Engenho D’Água, há outro elemento fictício de grande importância na trama: o sino da vaca, a relíquia sagrada roubada pela filha do Patrão, com a ajuda do Preto. Na foto acima, o personagem de Marcelo Batista olha fixamente para o sino, como quem vislumbra alguma chance de liberdade. Pivô dos acontecimentos que conduzem o protagonista por uma madrugada absurda, o sino é um objeto-fetiche com muitos sentidos, que os espectadores poderão descobrir cena a cena.

Nas pesquisas para a preparação da arte, definiu-se que a aparência do sino não deveria seguir o design de um típico “sincerro” (cowbell), sino para localização de gado, com a forma de um trapézio. A peça-chave do filme, por motivos simbólicos, deveria ter o mesmo desenho de um sino de campanário de Igreja, com seu formato sinuoso característico, exatamente como o exemplar dourado utilizado no DIA DE PRETO (detalhe acima). Assim feito, o objeto atravessa os mais de três séculos da trama, com sutis diferenças de caracterização: um pouco gasto e arranhado no Século XVII, restaurado e brilhante nos dias de hoje.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

As aparições da Santa

Além da “aparição” miraculosa para um escravo, a imagem de Nossa Senhora também se faz presente em duas outras referências no DIA DE PRETO. A Virgem Maria está no chaveiro do puma amarelo do personagem de Marcelo Batista (foto acima), numa das cenas realizadas no estacionamento do shopping, e tem papel marcante nos momentos em que o Preto encontra o velho e fictício Cruzeiro do Engenho D’Água.

Para a caracterização do Cruzeiro atravessando as épocas, foram utilizadas duas estátuas de Nossa Senhora da Penna. No passado colonial, o Cruzeiro feito de pedra caiada, com suas velas escuras feitas de sebo, mostra a estátua da Santa desgastada, lavada, curtida. No século XXI, o limo do bosque úmido cobre a pedra do Cruzeiro, bruta e gasta. Mas a imagem de Nossa Senhora está restaurada, impecável entre as elegantes velas de parafina industrial branquíssima (acima).

terça-feira, 26 de julho de 2011

Ralando nas madrugadas

Pode parecer um mendigo na sarjeta, às portas de um botequim fechado, mas a foto acima mostra o diretor Marcial Renato dormindo pelos corredores do shopping, nos colchões “de campanha” disponibilizados pela produção exatamente para esse fim. Para os mortos de cansaço, a outra opção, mais confortável, era o camarim no mezanino da base de produção, que às vezes estava longe demais do set montado para a filmagem.

Na fase de produção, algumas cenas extravagantes marcaram as madrugadas do RIOSHOPPING. Pessoas dormindo pelos corredores, empurrando carrinhos, falando sozinhas, iluminando tudo. Nos primeiros meses, amigos, familiares e curiosos juntavam-se à equipe nas maratonas de trabalho noturno. Nos últimos, a freqüência de espectadores e incentivadores diminuiu a zero, tornando mais radical a sensação de confinamento, o que gerou comportamentos estranhos em parte da equipe, como o diretor Daniel Mattos, que na foto acima ergue uma vara de boom imaginária.

Para as longas jornadas de espera, muitas vezes a solução era o laptop conectado à Internet, operado na foto ao lado pelo assistente de direção Leandro Baseggio. Ao fundo, o lanche da madrugada também cumpria a missão de espantar o sono da equipe com altas doses de cafeína, quente e fria.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Alimentação, maquiagem e produção

Durante a fase de produção realizada no RIOSHOPPING, logo após o encerramento do horário comercial, algumas lojas se transformavam em verdadeiros “departamentos” do filme, além daquela cedida pela administração para servir de base e armazém. O expediente começava no Tacacá, restaurante parceiro no fornecimento de alimentação para a equipe e o elenco (na foto acima, o ator Ricardo Bonaverti posa ao lado da Diretora de Arte e Figurinista Karin Kulnig e da Caracterizadora Kris Kulnig, com a filha Julia no colo), e de lá seguia para outros locais do shopping.


Alguns dos personagens, como o Chefe vivido por Ricardo, tinham parte da caracterização realizada no Tartari Coiffeur, centro de estética que também serviu como locação para uma das cenas do filme. Lá, o ator recebia os cuidados do cabeleireiro Sena (foto ao lado) e o resto da equipe do salão, de forma a garantir o visual aprovado pela Direção. Comparado ao camarim improvisado na base de produção, o apoio do Tartari era um choque de realidade, com todo o conforto e os equipamentos necessários para a preparação do elenco.



Alimentados, vestidos e maquiados, os integrantes do elenco estavam disponíveis para o set por volta das 22h, quando o shopping fechava as portas. Na foto ao lado, Ricardo Bonaverti aparece caracterizado como o Chefe de Segurança do shopping: estilo militar no corte de cabelo e no traje com insígnia de honra, e a expressão carrancuda de quem está louco para aterrorizar o Preto, vivido por Marcelo Batista.

domingo, 24 de julho de 2011

Produtores independentes, servidores públicos

Sob a ótica dos realizadores (na foto acima, Marcos Felipe e Daniel Mattos acompanham uma cena pelo monitor) e agora servidores públicos, a Ancine - Agência Nacional do Cinema, criada em 2001, vem se fortalecendo institucionalmente e começa a apresentar resultados concretos no fomento e regulação do mercado do cinema brasileiro. O Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), secretariado pela Agência, apresenta critérios públicos definidos para a seleção dos projetos, e os relatórios de análise e avaliação são disponibilizados aos proponentes. Um mecanismo muito mais transparente que o modelo tradicional de seleção de projetos para incentivo fiscal numa empresa privada ou nos demais editais públicos, com suas comissões caixa-preta. No FSA, o trabalho de seleção e decisão de investimento tem orientação técnica, fundamentada nas diretrizes e critérios deliberados por um Comitê Gestor com participantes do Governo, da Agência e do Setor Audiovisual.

O Diretor Marcial Renato lamenta, brincando, que uma entidade pública voltada para o audiovisual, e Fundos como o FSA tenham demorado tanto para surgir. Se o FSA existisse na época em que o primeiro projeto da DEMIAN foi desenvolvido, talvez o DIA DE PRETO nem existisse (na foto acima, detalhe de um restaurante no shopping, um dos cenários do filme). Mas as negativas de empresas públicas ou privadas e suas comissões de notáveis, quando eram comunicadas, não apresentavam qualquer justificativa específica, no máximo uma carta ou e-mail com texto-padrão. Muitas vezes, o projeto era sequer apresentado, ficando pela sala de recepção das empresas.

Na dupla perspectiva de produtores realmente independentes e servidores públicos concursados (na foto acima, a sombra de Marcos Felipe no cruzeiro original da Igreja de Nossa Senhora da Penna, em pesquisa realizada na fase de pré-produção), os realizadores do filme DIA DE PRETO procuram contribuir para a importante discussão sobre os rumos da política setorial que hoje se dá no âmbito da sociedade, do Governo, da Ancine e de outras instituições e agentes do setor, pela saúde do mercado e pela defesa de nossa identidade audiovisual.

sábado, 23 de julho de 2011

A produção em Ipiabas

As gravações das cenas de época do filme DIA DE PRETO aconteceram na localidade de Ipiabas, entre Barra do Piraí e Conservatória, na região do Vale do Paraíba, no Estado do Rio. Num final de semana de cinco dias, a equipe estabeleceu sua base de produção na Pousada do Castelo, simpático hotel com atrações para todas as idades. Na foto acima, Ravena Kulnig brinca com um cavalo de madeira da pousada, que ainda oferecia casa na árvore e casa de bonecas.

Além dos carros particulares usados na produção, a equipe contava com um caminhão-baú para a guarda e transporte dos equipamentos, e uma van que transportou parte do elenco e da equipe no trajeto de ida e volta para o Rio de Janeiro. Na foto acima, o ator Marcelo Batista e Diretora de Arte e Figurinista Karin Kulnig aparecem em primeiro plano. Ao fundo, o Maquinista Carlitos e a Assistente de Produção Renata Alves.


Uma das peças transportadas no caminhão-baú foi o cruzeiro, que aparece na trama atravessando os séculos, de pedra caiada e com velas escuras de sebo no século XVII (foto ao lado, com as velas ainda apagadas) ou de pedra com limo e velas de parafina industrial no século XXI. Nas cenas realizadas em Ipiabas, a caracterização do cruzeiro ficou a cargo de Karin e Marcial (foto acima), enquanto o resto da equipe se ocupava da árdua tarefa de colocar em cena uma vaca teimosa.


No vídeo abaixo, você confere um clipe com um dia de gravação na fazenda São João da Prosperidade, em Ipiabas. Imagens de Marcial Renato e Karin Kulnig e Trilha musical de V12 Music:


sexta-feira, 22 de julho de 2011

Especialistas em cinema

Após dez anos de experiência em fotografia e direção de filmes publicitários, o Diretor Marcos Felipe (na foto acima com o Diretor de Fotografia Gustavo Nasr e o ator Marcelo Batista, numa das locações do DIA DE PRETO) iniciou sua carreira de especialista em regulação da atividade cinematográfica e audiovisual em 2006, quando o filme entrou em produção. Na Ancine, Marcos pôde conhecer por dentro o sistema de financiamento público de orçamentos muitas vezes inflados e resultados comerciais modestos. Um sistema excludente, onde os poucos bem relacionados, com ou sem mérito, captam muito, e os muitos marginalizados do circuito de editais de fomento e leis de incentivo, a despeito da qualidade de seus projetos, captam nada, ou muito pouco.

Os demais Produtores e Diretores do filme DIA DE PRETO, Daniel Mattos e Marcial Renato (na foto acima no mesmo set, num cânion no Rio de Janeiro), atualmente, também são servidores concursados da Agência Nacional do Cinema, desde 2009. Antes do serviço público, Daniel enveredou pela Academia, lecionando e coordenando cursos universitários de Comunicação Social. Marcial trabalhava como Produtor na TV Globo desde 2001, e em 2006 coordenava a equipe de Internet da Central Globo de Produção, no Projac. Juntos, os três levantaram recursos para a produção de um filme de longa-metragem que tenta superar a dicotomia entre “filmes de arte” e “filmes de público”, conjugando a motivação artística dos realizadores com a lógica econômica de um mercado desejavelmente autossustentável.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Um ano e meio no shopping

Passar as madrugadas dos finais de semana no shopping, durante mais de um ano, tornou a equipe de produção do filme DIA DE PRETO muito próxima dos funcionários, lojistas e clientes do RIOSHOPPING, que “compraram” a ideia e apoiaram a realização do projeto. Nos dias de gravação, a equipe jantava no Restaurante Tacacá entre 19h e 20h30, antes de começar a preparar o primeiro set do dia, que deveria estar pronto às 22h, fim do expediente no shopping e início oficial das gravações. Nas primeiras horas de trabalho da madrugada, algumas cenas necessitavam da participação dos próprios lojistas, para o posicionamento da câmera ou dos refletores (foto acima). Em alguns momentos do filme, os espaços e lojas do shopping serviram de locação para cenas inteiras.

O clima nos bastidores era clichê-família. Na foto ao lado, o Diretor Daniel Mattos posa com Paula Wetzel numa das madrugadas em que ela acompanhou o marido no trabalho. Amigos, parentes, colegas de trabalho, alunos e mesmo curiosos fizeram companhia à equipe durante a fase de produção, das noturnas frias no Bosque da Freguesia em junho ao calor tropical do estacionamento do shopping em outubro.


No último dia de gravação no shopping, com a base de produção quase desocupada, Marcelo Batista, numa das últimas vezes que vestiria o figurino completo do Preto, posou no camarim do mezanino com a estátua de São Judas Tadeu, o “padroeiro das causas impossíveis”. Por incrível que pareça, a imagem do Santo já estava numa prateleira do mezanino quando a loja foi cedida pela administração do shopping, e permaneceu lá após a conclusão do trabalho. A missão estava cumprida. São Judas poderia partir para outra.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Pesquisando sobre o Século XVII

A pesquisa realizada para a recriação dos ambientes de um engenho de cana de açúcar no Rio de Janeiro em 1661 revelou detalhes da tecnologia da época, com impacto direto na produção de arte. Velas de parafina branca são um luxo moderno. No século XVII, muitas velas eram feitas de sebo, gordura animal, e fediam como tal. E eram um pouco mais escuras, amarronzadas, como no quadro ao lado, “Madalena” (1638-43), de Georges de La Tour. No DIA DE PRETO, as velas modernas foram caracterizadas com betume, ficando “bronzeadas” para as cenas no cruzeiro ou na mesa do Senhor de Engenho, no Século XVII.

Muitas referências para o figurino do filme estavam em “O Novo Mundo”, de Terrence Malick (foto acima, com Colin Farrel), saga contemporânea, na América do Norte, da lenda do primeiro escravo alforriado do Brasil. O estilo desgastado, sujo, realista era um modelo a ser perseguido na customização das peças cedidas pelo cineasta Oswaldo Caldeira e pela produtora Paula Martinez, do filme “Tiradentes” (1999), que retrata uma época posterior. A equipe de arte tingiu, cortou, desfiou e manchou algumas roupas, redesenhou outras e finalizou o acabamento com alguma poeira cenográfica.

A reconstituição de um cenário interior, a sala do Senhor de Engenho, também foi objeto da pesquisa de arte. O tom desejado pela direção deveria ser “alegremente contido, embora menos displicente” que os ambientes representados nos quadros do holandês Adriaen van Ostade, como esse auto-retrato ao lado, de 1663, apenas dois anos após os fatos ocorridos no DIA DE PRETO. No Brasil, vidros não eram exatamente corriqueiros, licença poética assumida pela produção, por motivos estéticos, narrativos e práticos. Mas o interior mostra uma sobriedade de formas e móveis fixos que de certa forma contrastam com a variedade de utensílios e objetos de cena.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Base de Produção

No desenho de produção do filme DIA DE PRETO, manter uma base na locação de mais de oitenta por cento das cenas foi um fator decisivo. De setembro de 2006 a novembro de 2007, uma das lojas do segundo piso do RIOSHOPPING (na foto acima, o Diretor Marcos Felipe atravessa a Praça de Alimentação do shopping, próxima à loja-base de produção) foi tomada por todo o tipo de equipamento necessário para uma produção audiovisual. Desde cabos, refletores e trilhos, entre carpetes e portais cenográficos, armazenados no primeiro piso, até figurinos, objetos de cena, material de limpeza e documentos da produção, guardados no camarim montado no mezanino da loja.

Na foto acima, a Diretora de Arte e Figurinista Karin Kulnig arruma as roupas do elenco na “arara” improvisada no camarim. Durante a fase de produção, parte da equipe passou mais tempo no mezanino, nas atividades de preparação e desprodução, do que propriamente no set, geralmente montado num corredor, no banheiro, no terraço etc. Outra parte do time, entretanto, tinha de estar presente nas diversas frentes da câmera, atravessando caminhos literalmente estreitos, como os Diretores Daniel Mattos e Marcos Felipe na foto ao lado, no terraço do RIOSHOPPING.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Referências: últimos comentários

O DIA DE PRETO também tem os seus momentos contemplativos. Como nos filmes de Terrence Malick, sobretudo “Além da Linha Vermelha” (foto acima), a paisagem é mais do que um pano de fundo. O “meio” se torna um personagem importante, ganha tempo na tela. Tanto os corredores do shopping, revelados em detalhe, quanto as externas em locações difíceis, como um cânion ou um penhasco, são valorizados na trama, interagindo com os outros “atores”.

O grande estudo de referências usadas no desenvolvimento do roteiro foi aproveitado em quase todos os aspectos do filme: na preparação do elenco, na arte, na dramaturgia, na música etc. Embora a maior parte dessas influências tenha se dado de forma difusa, algumas das citações são explícitas, como a de uma cena de “De Volta para o Futuro 2” (foto acima), de Robert Zemeckis, que ganha uma versão malandra numa das perseguições no DIA DE PRETO.

domingo, 17 de julho de 2011

Referências para arte e trilha musical


Além da trilha de Ennio Morricone, os faroestes de Sergio Leone também serviram de referência para outros elementos no DIA DE PRETO. O uso de cartelas com os nomes dos personagens em “Três Homens em Conflito” (cartaz acima) é quase tão marcante quanto o refrão assobiado da trilha, vinheta hoje associada de modo genérico aos filmes de Velho Oeste, ou a qualquer tipo de duelo. Nas cenas diurnas realizadas no estacionamento do shopping estão presentes alguns ingredientes do ritmo e dos enquadramentos de Leone, e até uma paródia do assobio icônico, que não poderia faltar. Destacando ainda a influência do filme na composição dos personagens do “Preto”, vivido por Marcelo Batista, que herda do Blondie de Clint Eastwood certa solidão aventureira, e do “Corno” interpretado por Guilherme Almeida, que emula algumas características do terrível “Olhos de Anjo” personificado por Lee Van Cleef.
Para a Direção de Arte, “Cidade dos Sonhos” (imagem acima) foi uma forte referência para a composição da Sala de Segurança do shopping, destaque nas cenas em que o Preto é aterrorizado pelo Chefe (Ricardo Bonaverti) num simples ato de servir um cafezinho. Mas o filme de David Lynch também empresta à trama do DIA DE PRETO outros elementos de surrealismo, complementados pelo estranhamento kitsch de “Quero Ser John Malkovich”, de Spike Jonze. Elementos presentes também no “Clube da Luta” de David Fincher, com sua corja de terroristas urbanos, tão dispostos a urinar na feijoada alheia quanto a demolir prédios. A toca subterrânea onde habita um tipo inesperado de parasita da sociedade de consumo, inquilino desconhecido pelo shopping center, é uma mistura da fábrica de sabão à base de gordura humana do “Clube” de Fincher com o andar “sete e meio” criado por Charlie Kaufman para o filme de Jonze.

sábado, 16 de julho de 2011

As primeiras referências do roteiro

O primeiro tratamento do roteiro contava a história de um jovem que não conseguia sair de um shopping center numa madrugada. Era o projeto desenvolvido do argumento inicial de uma aventura misturando “Indiana Jones”, de Spielberg, e “Depois de Horas”, de Scorsese, toda passada num shopping, envolvendo um anti-herói, uma jóia, uma mulher, um velho, uma gangue e algum tipo de organização secreta com rituais macabros. Durante o desenvolvimento, a parte mais acrobática da trama (nomeada então “Batanka”) foi perdendo espaço para o conceito do shopping como uma ratoeira maravilhosa, no estilo da Manhattan que arrasta o personagem de Griffin Dunne noite adentro (cartaz acima). Nascia o projeto “Depois do Shopping”.
O desenvolvimento posterior até o último tratamento acabou destacando influências que já estavam presentes no primeiro roteiro, como “Curtindo a Vida Adoidado”, de John Hughes (cartaz acima), fortalecendo a personalidade do protagonista do filme como “O Cara”, do tipo que dá nó em pingo d’água. Outras foram se adicionando ao longo do processo criativo, como “Além da Linha Vermelha”, de Terrence Malick, “Cidade dos Sonhos”, de David Lynch, “Quero Ser John Malkovitch”, de Spike Jonze, e os faroestes spaghetti de Sergio Leone, especialmente “Três Homens em Conflito”, cuja trilha musical composta por Ennio Morricone é grande fonte de inspiração para os climas de algumas muitas cenas do filme DIA DE PRETO. De citação explícita ao filme de Scorsese, permaneceu no roteiro final apenas uma cena no banheiro do shopping, que os espectadores mais atentos poderão perceber.



sexta-feira, 15 de julho de 2011

Referências: o chefe e o parasita

Para finalizar as referências de elenco apresentadas no workshop de preparação do filme DIA DE PRETO, temos dois personagens que ultrapassam o limite da sanidade mental e conferem um toque de surrealismo à trama: o Chefe de Segurança do Shopping, interpretado por Ricardo Bonaverti, e o indecifrável eremita que habita os subterrâneos do centro comercial, vivido por Raul Ferreira. O primeiro deles foi inspirado abertamente numa cena específica do filme “Sem Licença para Dirigir”, de Greg Beeman. Na cena, o avaliador interpretado por James Avery (na montagem acima com Ricardo) aterroriza o personagem de Corey Haim, colocando num copo de café toda a responsabilidade pela aprovação ou não do rapaz num teste de direção. No DIA DE PRETO, uma caneca de café também protagoniza uma cena ao mesmo tempo tensa e hilariante com o Preto e o Chefe, referência explícita dessa comédia adolescente dos anos 80, verdadeiro clássico da sessão da tarde. Outro tipo que serviu para a caracterização do Chefe foi o truculento Sargento Emil Foley de Louis Gosset Jr. em “A Força do Destino”, de Taylor Hackford, um perseguidor implacável do personagem de Richard Gere.
Já o personagem de Raul Ferreira é uma homenagem a alguns dos tipos mais bizarros do cinema, a começar pelo Tyler Durden de Brad Pitt em “Clube da Luta” (na montagem acima com Raul). No filme de David Fincher, Tyler habita uma mansão em ruínas com um grupo de seguidores fiéis, tramando planos diabólicos contra o “sistema”, para no final revelar a verdade da trama para o protagonista vivido por Edward Norton. No DIA DE PRETO, Raul Ferreira é uma espécie de parasita da sociedade de consumo, vivendo dos restos do shopping center numa toca subterrânea, e também tem um papel importante no desenrolar do mistério que move a história. A toca, por sua vez, também bebe na fonte do “andar sete e meio” de “Quero Ser John Malkovich”, de Spike Jonze, local surreal onde trabalha o personagem de John Cusack. Improvável depósito de quinquilharias e dejetos, a morada de Raul mistura todo o conforto e a porcaria do consumismo moderno, de onde o personagem só sai para se aproveitar, durante a madrugada, dos produtos e serviços que o shopping pode lhe oferecer gratuitamente enquanto está fechado para o público.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Referências: o patriarca e a mulher fatal


Continuando a série de referências que guiaram a composição dos personagens do filme DIA DE PRETO, chegamos ao núcleo familiar envolvido no sumiço do sino sagrado, um dos principais elementos da trama. O patriarca vivido por Paulo Abreu é um senhor muito rico e poderoso, dono do shopping center e da relíquia. Enganado pela própria filha, uma mulher fatal e traiçoeira, o velho não hesita em ameaçar o Preto pelo roubo. Inspirado em personagens imponentes como o Victor Ziegler vivido por Sydney Pollack em “De Olhos Bem Fechados” (na montagem acima com Paulo), e pelo Cowboy misterioso interpretado por Monty Montgomery em “Cidade dos Sonhos” (de David Lynch), o Patrão conjuga a altivez do personagem de Kubrick, numa aparição tão fantasmagórica como a do sinistro personagem lynchiano.
Para a mulher fatal vivida por Vanessa Galvão, a grande referência foi a Sra. Smith de Angelina Jolie no filme de Doug Liman (montagem acima). Além desse ícone da sedução cinematográfica, outras atrizes também serviram de inspiração para o figurino e as expressões enigmáticas da personagem: Rebecca Romiyn (Laure/Lily) em “Femme Fatale”, de Brian De Palma, e Laura Harring (Rita), também no elenco de “Cidade dos Sonhos”. Mulheres capazes de virar a cabeça de homens (e de outras mulheres) com o charme sexy e malicioso típico das grande destruidoras de lares e corações na tela grande. No DIA DE PRETO, Vanessa Galvão deixa o personagem de Marcelo Batista no maior desespero, literalmente de calça arriada, provando ao espectador que, além de linda, a personagem também é uma verdadeira vaca.


quarta-feira, 13 de julho de 2011

Referências: o vilão e sua gangue


No workshop de apresentação do projeto ao elenco, realizado um pouco antes do início das gravações, os Diretores Marcial Renato, Daniel Mattos e Marcos Felipe selecionaram diversas cenas dos filmes que inspiraram o roteiro do DIA DE PRETO, e serviram como fonte para a construção dos personagens. Para os vilões da trama, foram apresentados trechos de Matrix (dos irmãos Wachowski), Kill Bill (de Quentin Tarantino) e, principalmente, os faroestes de Sergio Leone. Na montagem acima, o personagem de Guilherme Almeida aparece ao lado do sinistro Olhos de Anjo, vivido por Lee Van Cleef em “Três Homens em Conflito”, a maior referência para o vilão do filme.
Já o visual dos Capangas foi abertamente inspirado pela obra-prima de Andy e Larry (agora Lana) Wachowski. Para o trio de realizadores, o “look” soturno da ficção científica estrelada por Keanu Reeves cairia como uma luva para caracterizar uma gangue extremamente improvável em terras tupiniquins, exageradamente “fake” com seus figurinos completamente negros. Na foto acima, o personagem de Heráclito Junior aparece ao lado de Neo, numa composição propositadamente extravagante que assume sem culpas uma paródia divertida desse estereótipo cinematográfico.
Para as vilãs do grupo, a Elle Driver de Kill Bill foi a referência a ser perseguida. Conjugando beleza mortífera com uma expressão gélida e ameaçadora, a Cobra Californiana de Tarantino inspirou o figurino e o gestual das Capangas interpretadas por Naiara Hawaii e Andrea Cassali, que aparece na montagem acima ao lado da personagem de Daryl Hannah. A diferença, entretanto, é que a vilã caolha utiliza uma espada samurai contra suas vítimas, enquanto a assecla do DIA DE PRETO só precisa de um salto alto para surrar o protagonista do filme.

terça-feira, 12 de julho de 2011

As Referências para o Dia de Preto


Os personagens do filme DIA DE PRETO não têm nomes próprios. Em nenhum momento da trama, seus nomes são mencionados em qualquer diálogo. Partindo da lenda do primeiro escravo alforriado do Brasil (foto acima), os personagens são protótipos concebidos a partir de imagens arquetípicas, sínteses bem-humoradas de alguns dos estereótipos mais comuns: o malandro sagaz, o vilão calculista, o velho poderoso, o chefe durão, a mulher fatal etc.
A estrutura do roteiro bebe em muitas fontes. Estão lá o “eterno retorno” de Nietzshe, o inconsciente coletivo de Jung e a noção marxista de que a História se repete como farsa. Voltando à Poética de Aristóteles, a saga do Preto no filme oscila entre as desventuras do herói trágico e as aventuras do anti-herói cômico (na foto acima, o Preto sofre nas mãos do Chefe, interpretado por Ricardo Bonaverti), estimulando a imaginação do espectador através do drama e da graça.
Fruto de muitas referências cinematográficas, o Preto acaba sendo uma mistura do Soldado Witt (Jim Caviezel em Além da Linha Vermelha, de Terrence Malick, na montagem acima com Marcelo Batista), do Paul Hackett (Griffin Dunne em Depois de Horas, de Martin Scorsese), do Marty McFly (Michael J Fox em de De Volta para o Futuro, de Robert Zemeckis), do Blondie (Clint Eastwood em Três Homens em Conflito, de Sergio Leone), do Renton (Ewan McGregor em Trainspotting, de Danny Boyle) e do Ferris Bueller (Matthew Broderick em Curtindo a Vida Adoidado, de John Hughes), entre outros. Filmes que inspiraram os ganchos do roteiro e a direção de arte, na fase de pré-produção, além de nortear a atuação do elenco, durante os workshops de preparação, ensaios e gravações.